Virando a casaca por um dia
- impactoesportivo
- 22 de out. de 2018
- 2 min de leitura
Por: Letícia Silva
Nascido e criado vestindo orgulhosamente o vermelho, branco e preto que representam a cobra coral mais famosa desse Brasil, o Santa Cruz, ou Santinha para os íntimos, meu pai é um daqueles torcedores fiéis que não tem medo de gritar o amor pelo time do coração. Time esse que não tem espaço no meu coração.
Para a tristeza profunda do meu pai, nasci rubro-negra. Costumo dizer que nasci porque realmente não tive nenhum incentivo ou exemplo de torcedor do Sport por perto. Foi puro instinto amar e torcer para o melhor time do Nordeste. Na verdade, acho que posso dizer que foi até um ato de bravura da minha parte. O maior deles foi quando, aos 12 anos, quando nunca tinha sequer pisado num campo de futebol e o rádio era meu amigo fiel, tive coragem de pedir ao meu pai para me levar a um jogo do Sport.
No começo ele riu muito, como se eu tivesse contado uma piada hilária, até que percebeu que eu estava falando sério. Aí ele riu mais ainda até que olhou pra mim é percebeu que aquele momento era muito mais do que uma rixa entre times rivais. Era a paixão pelo futebol aflorando numa menina de 12 anos. E ele sabia exatamente como era isso.
Duas semanas depois, lá estávamos nós. Eu feliz da vida. Bandeira, camisa e boné com os escudos do Sport. Meu pai, com camisa preta quase como se um luto. Lembro perfeitamente do jogo. Sport x Coritiba pela série B do Brasileirão. Jogo elétrico. Bandeirões subindo, balões, torcida cantando. Tudo era mágico. Meus olhos brilhavam e meu coração palpitava. Meu pai só me observava e sorria. Meu pai também levantou o bandeirão, também gritou gol comigo e me carregou nos ombros pra eu ter uma vista melhor do campo.
Para minha felicidade, o Sport ganhou. Fiquei em êxtase e só fazia agradecer ao meu pai pela oportunidade. Naquele momento, mesmo com 12 anos, reconheci o esforço que foi pra ele, um tricolor doente, fazer o que ele fez. Hoje, aos 20, eu reconheço ainda mais. Aos 12 achei engraçado o fato do meu pai comemorar comigo. Aos 20, me emociono ao perceber que o amor de pai dele é tão grande que, naquele dia, ele foi rubro-negro também.

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