Superação em cadeira de rodas
- impactoesportivo
- 23 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de nov. de 2018
Atletas de basquete da ADEFEPE superam diversos preconceitos
e limitações físicas para continuar jogando
Por: Nuno Talicosk
Edição: Thiago Barreto
A prática de qualquer esporte demanda muito esforço físico e mental, independentemente de ser homem ou mulher. Imagine, agora, uma partida de basquete, que tem uma grande movimentação pela quadra, ser disputada por cadeirantes. Os desafios começam desde a própria aceitação pessoal e, depois, com a atividade esportiva em si.
Criada em 2004 no Brasil, as Paraolimpíadas ainda não conseguiram diminuir o preconceito em relação aos deficientes nos esportes. Em nível estadual, a falta de apoio é um problema. Pernambuco tem apenas três equipes de Pernambuco, e uma delas é a Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Pernambuco (ADEFEPE), criada em maio de 1987, e que atualmente treina na quadra da Escola Sizenando Silveira, no Recife. O time conta com um grupo pequeno de voluntários.
Apesar das dificuldades, o basquete de cadeira de rodas atrai o interesse não só de quem o pratica mas de pessoas que se sentem instigadas a comparecerem e se doarem de alguma forma. Gemi Lira (49) é dona de casa e tem um filho cadeirante com síndrome de down, o que o impossibilita de realizar diversas tarefas. Hoje, ele tem 24 anos e depende totalmente dos pais. Gemi encontra nos treinos de basquete uma válvula de escape para o isolamento dela e do filho. Assistindo ao jogo, eles vibram e se divertem. “Vir pra cá é sinônimo de superação, tanto dos meninos jogando, como para mim e meu filho. Como ele não pode jogar, ele fica feliz assistindo e eu também. Tenho isso aqui como uma família e todos os jogadores como meus filhos”, comenta.
Assim como Gemi, Sivaldo Souza (52), que é coordenador esportivo da ADEFEPE, faz questão de sempre ressaltar a importância do time de basquete na sua vida e de como foi um divisor de águas. Ele ficou paraplégico aos 25 anos, após um acidente de carro que atingiu a medula dele. Depois do ocorrido, ele ficou oito anos em depressão, sem conseguir ter contato com o mundo externo e sem saber o que faria. Foi quando encontrou no esporte a salvação. Depois de alguns meses de tratamento psicológico, entrou na natação e, em seguida, no basquete. Foi aos 33 anos que Sivaldo tornou-se atleta profissional de basquete de cadeira de rodas. “Isso aqui para mim é um mix de emoções. Oxigênio, lazer e um antidepressivo natural contra qualquer mal e limitação”, conta o coordenador.

Os desafios de manter um time de basquete no Recife são vários, mas o principal é a falta de apoio financeiro para manutenção das cadeiras de rodas adaptadas para o jogo. Segundo Luiz Henrique Wanderley (52), professor de Educação Física de duas escolas privadas de Olinda, e treinador da ADEFEPE há mais de três anos, a evolução dos alunos se dá tanto no físico quanto no quesito pessoal. “A gente acompanha como eles chegam aqui, buscamos saber da trajetória de vida deles e o porquê eles vieram pra cá. Isso faz com que a gente consiga realizar um diagnóstico depois de algum tempo. Tem cara aqui que hoje se movimenta tão rápido, já tem domínio de bola, da cadeira e da quadra”, explica.
O basquete de cadeira de rodas, assim como outros esportes paralímpicos, tem regras diferenciadas. “Às vezes eles acham que sabem jogar porque o repertório deles é do jogo de andantes. Mas, por exemplo, andar com a bola é permitido, desde que os jogadores não passem a mão duas vezes nas rodas. Feito isso, eles precisam passar ou arremessar. As faltas também são notificadas de forma diferente”, ressalta o treinador.

Mesmo o jogo tendo regras e características diferentes da modalidade tradicional, o entusiasmo e a vontade de superar os desafios é o que move os jogadores e é o mesmo dos mais dedicados atletas profissionais. É o caso de Alexandre Carneiro (29), que ficou paraplégico por conta de um tiro, ocasionando uma lesão medular. Ele encontrou no basquete como uma razão para continuar vivendo. “Quando eu cheguei aqui no basquete a minha vida mudou totalmente, porque os meninos vivem. Eu aprendi a viver novamente com eles”, disse.
Conheça agora um pouco da história da ADEFEPE e de alguns atletas que encontraram na associação um motivo de recomeço:
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