Pole dance: uma prática que vai além da sensualidade
- impactoesportivo
- 11 de nov. de 2018
- 5 min de leitura
Para quem realiza, o esporte é mais que movimentos em uma barra fixa, sendo considerado, inclusive, como uma expressão artística
Por: Paula Aguiar e Thaís Schio
Edição: João Gabriel
Apesar da prática do pole dance ainda ser bastante associada à strippers e ao erotismo, há algum tempo ele vem ganhando um espaço diferente em meio às práticas esportivas. A discriminação da sua prática acontece tanto pela forma como sua história foi construída quanto pelo modo como ele é exposto na mídia. A barra, que é fincada no sentido vertical do chão ao teto, sempre aparece nas boates, em filmes ou novelas, sendo utilizado como um instrumento da sensualidade e objeto de sedução.
A professora de pole dance Jacqueline Colares, explica que a prática vai muito além do pouco que nos é apresentado. “É muito comum ver filmes onde a mulher está fazendo strip tease no pole. Então, se você só vê isso, como é que você pode pensar que existem outras vertentes dessa prática? Mas a gente está aí para mostrar que a prática do pole não é só rebolar, é muito mais complexo e exige muito mais performance e preparação física”, afirma.
Jacqueline é formada em pedagogia, mas foi na dança que encontrou sua verdadeira vocação. Ela começou a fazer aulas de dança em 2008 e o estilo que escolheu para iniciar neste meio foi a dança de salão. Se apaixonou. Seu fascínio por esse universo foi tão grande que decidiu trabalhar profissionalmente com dança, tanto como professora quanto como artista.
A professora conta que não queria depender sempre de um parceiro para fazer as aulas. Então, decidiu procurar outras modalidades que a permitisse dançar sozinha. “Fui experimentando várias coisas. Fiz um pouco de balé, dança do ventre e saí pesquisando, vivenciando várias modalidades em que a dança podia ser individual”, recorda.
“Não lembro como eu pensei em praticar pole dance, mas não tinha ninguém aqui em Pernambuco que trabalhasse com esse estilo. Foi quando eu entrei em contato com a Federação Brasileira de Pole Dance para saber o que era necessário para fazer a formação e capacitação para começar a trabalhar”, lembra. Assim, descobriu que as capacitações eram avaliativas e seria necessário saber de alguma coisa para conseguir a certificação. Ela começou a estudar de forma autônoma, comprou uma barra e foi assim que conseguiu sua formação na área.



Basta assistir a algum dos vídeos de apresentações de pole dance para se ter uma noção de que não é uma atividade fácil. Jacqueline garante que para quem deseja fazer as aulas não é necessário ter força, flexibilidade e conhecimento de dança anteriores para estar apto a realizar essa prática. Além disso, qualquer pessoa pode fazer as práticas, sejam homens, mulheres e até crianças. “O pole é acessível a todos. Trabalhamos em um sistema de progressão e os movimentos vão do simples ao complexo. De acordo com o que você for evoluindo, as movimentações vão evoluindo com você”, afirmou.
Para grande parte das mulheres, é difícil sensualizar se olhando no espelho e se admirar enquanto faz isso. O mais comum é olhar e se perguntar: “Quem é essa? Quantas pessoas param na frente do espelho sem roupa e se admiram fazendo movimentações? Quantas delas se admiram fazendo força e executando acrobacias? O lidar com pouca roupa, com o espelho, com o próprio corpo e com o que ele pode fazer, não é fácil e o pole dance ajuda muito a desenvolver isso.” conta Jacqueline.
Para quem ainda tem impressão de que a prática do pole dance é restrita para as mulheres, o fisioterapeuta e professor de pilates Filipe Saboia mostra que essa categoria de exercício é bastante abrangente. Ele é o atual campeão brasileiro de pole sport na categoria Elite Sênior Masculino (18-39 anos) e na competição internacional ficou em 3° lugar na disputa da mesma categoria. Seu primeiro contato com o pole dance foi de forma inesperada. Ele já havia praticado atividades como circo, dança contemporânea, ballet e dança de rua e conta que conheceu o pole dance através de uma de suas alunas de pilates. “Ela estava sem coragem de ir sozinha para a aula experimental e me chamou para ir com ela. Para incentivá-la fui junto e me apaixonei. Na época, eu não tinha como fazer as aulas e só fui realmente fazer as aulas depois de um tempo”, lembra ele.
Adepto das práticas do pole dance há quatro anos, Filipe observa que, dentre os principais benefícios e modificações no seu corpo, destacam-se o aumento da sua mobilidade e a melhora da flexibilidade muscular. “Isso aconteceu por causa da minha rotina de treinos. Ter chegado tão longe também me motiva a conquistar posturas que exigem mais de mim, mais flexibilidade muscular e força. Assim vou evoluindo”, conta.





A decisão de começar a competir é devido ao incentivo de Jacqueline Colares, sua treinadora. “Ela viu em mim um potencial para campeonatos e me convidou para representar o nosso estado no campeonato brasileiro de 2015, ainda como amador, e eu topei. Peguei gosto pela coisa e não parei mais”, diz o fisioterapeuta.
Para Jacqueline, mesmo não estimulando a competição entre seus alunos, a decisão de incentivá-los a participar de campeonatos surgiu pelo desejo de serem avaliados de forma profissional. “Já competimos no cenário nacional há quatro anos. Hoje, temos quatro atletas que participam de competições. O Jadson Cristiano, que já trouxe medalha de ouro para Pernambuco na categoria profissional. Temos o Filipe Saboia, que trouxe a medalha de prata e ficou em 12° no mundial no ano passado. Esse ano, ele (Filipe) ficou em 1° lugar no brasileiro e em terceiro 3° no mundial. Temos também a Bárbara Ribeiro, que ficou em 2º lugar na categoria profissional feminino esse ano. E eu, que fiquei em 1º lugar na categoria profissional ano passado”, lembra.
Em 2017, Filipe Saboia ficou em 2° lugar no campeonato brasileiro e conseguiu garantir a vaga para representar o Brasil no mundial, que aconteceu na Holanda, no mesmo ano. “Fiquei em 12° lugar no mundial e agora em 2018 fui campeão brasileiro e fiquei em 3° no mundial que aconteceu na Espanha”, relembrou.
Quanto a patrocínio e como funciona sua rotina de treinos, o fisioterapeuta diz que todo o processo é difícil. “Não tenho patrocinador. O que torna tudo mais complicado. Tenho que trabalhar para me manter e ainda encontrar tempo para treinar. Mas tenho muita força de vontade e um desejo muito grande de crescer”, finalizou.
Conseguir ter um resultado satisfatório praticando alguma atividade física requer paciência e dedicação. Não existem resultados imediatos e com o pole dance não é diferente. “Quando a gente lida com o corpo, precisamos aprender a respeitar nosso ritmo. A força não vai vir do dia para a noite, é um processo de construção. A flexibilidade também é um processo de construção, a consciência corporal é um processo de construção... Então, é preciso ter paciência para colher os resultados”, diz a treinadora.
Outro ponto importante para quem pratica o pole dance é a tentativa dele ser considerado como esporte para se tornar uma modalidade olímpica. No Brasil, em 2009, foi criada a Federação Brasileira de Pole Dance, a FBPOLE, que ajudou a solidificar a prática como atividade artística e esportiva. “O pole dance ainda não é uma modalidade olímpica por questões burocráticas. A federação vem se cercando cada vez de respaldos para conseguir levá-lo as olimpíadas. Ainda está em processo de evolução, tentando entrar ao máximo dentro do critérios. Além disso, a prática está sendo reconhecida como esporte internacionalmente”, finalizou Jacqueline.
Comentários