Programas esportivos em Pernambuco: panorama histórico, influência e futuro
- impactoesportivo
- 6 de nov. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 8 de nov. de 2018
Comunicadores falam sobre a importância do jornalismo esportivo no Estado e do futuro diante das redes sociais.
Por Júlia Farias e Nuno Talicosk
Editor: João Gabriel
Ligar a televisão por volta das 12h no Recife é quase certeza de encontrar programas esportivos nas emissoras locais – TV Jornal (SBT), TV Clube (Record TV), TV Tribuna (Band) e Globo Nordeste. Esse hábito já é comum na vida de milhares de telespectadores que procuram notícias sobre seus times, ídolos e informações sobre assuntos relacionados ao esporte. Muitos dos programas em atividade no Recife até hoje sofreram algum tipo de influência de outros que também fizeram sucesso no Brasil. Além disso, muitos jornalistas e apresentadores têm como mestres grandes nomes como Milton Neves, Claudete Troiano, Luciano do Valle, que marcaram época no jornalismo esportivo brasileiro.
Revirando o baú...
Não se pode falar em esportes e televisão sem mencionar a Band, conhecida nacionalmente como o “canal do esporte”. Isso porque o apresentador Luciano do Valle implantou, em 1980, no Canal 13, uma das mais extensas e significativas programações esportivas da televisão brasileira. De acordo com informações no livro Biografia da Televisão Brasileira, dos jornalistas Flávio Ricco e José Armando Vannucci, antes “[...] o propósito era destacar as competições de vôlei, que começavam a ganhar espaço na preferência do telespectador brasileiro. A cobertura acabou se estendendo a outras modalidades, desde o futebol até a sinuca, passando pelo tênis de mesa, boxe, basquete e outros.”
O Show do Esporte, aos domingos, ficava dez horas no ar, das 10h às 20h, e contribuiu de maneira decisiva para consolidar a Bandeirantes no mercado publicitário. Foi o primeiro programa esportivo a inserir mensagens comerciais ao vivo, os merchandisings, que colaboraram significativamente no pagamento dos seus elevados custos operacionais.

Um dos radialistas mais antigos e renomados de Pernambuco é Aderval Barros, popularmente conhecido como o “Implacável”, que já teve passagem pela Rádio Jornal e Rádio Transamérica e atualmente apresenta o programa Jogo Aberto PE, na TV Tribuna, afiliada da Rede Bandeirantes. Para ele, embora os programas de sucesso sirvam como modelo para o que se faz hoje no jornalismo esportivo, a realidade é muito distante. “Nós daqui podemos ter um modelo de jornalismo esportivo que, por exemplo, não cabe no centro-sul do país”, comenta o radialista.

Outro grande sucesso da década de 1970 foi o Mesa Redonda, da TV Gazeta, em São Paulo, inicialmente apresentado por Milton Peruzzi, Dalmo Pessoa, Roberto Petri; depois, por Flávio Iazetti e Galvão Bueno, sempre às segundas. A partir de 1985, foi transmitido aos domingos, Roberto Avallone assumiu a apresentação.
Também já apresentaram programas esportivos de muito sucesso Fausto Silva, no Perdidos na Noite, e Silvio Santos, que começou a misturar entretenimento durante o comando.
O jornalista e narrador esportivo Rembrandt Jr. é um dos grandes nomes do jornalismo esportivo em Pernambuco e é lembrado pela população pelo carisma ímpar. Desde 2000, ele narra os jogos pela Globo Nordeste e, eventualmente, apresenta o Globo Esporte Pernambuco – programa que já está na casa dos recifenses há 40 anos. Para ele, os programas das décadas de 1980 e 1990 influenciaram (in)diretamente no que se faz hoje. “O que nos difere é, com certeza, a linguagem. Antes você tinha um jornalismo esportivo muito sério, muito ligado ao jornalismo geral. Hoje, você tem uma linguagem mais descontraída, leve e engraçada. O entretenimento é bem forte”, explica o apresentador.
O Replay é um programa esportivo que vai ao ar próximo do horário do almoço pela TV Jornal, afiliada ao SBT no Recife, e é vice-líder de audiência. Atualmente, o programa é comandado por Aroldo Costa, também coordenador de esportes na emissora. Aroldo já foi considerado o melhor locutor de rádio do Brasil e conhece bem a história do jornalismo esportivo. Para ele, o legado dos programas é de extrema importância para o que se faz hoje. “Se você olhar os programas dos anos 70 e 80, eles estavam mais próximos de um jornalismo documental. Hoje não. O repórter ficou mais à vontade. Deu uma leveza. De 2000 para cá, ficou mais próximo do entretenimento, mas não deixa seu lado jornalístico”, relembra.
Transmitir emoções para o telespectador é uma das principais funções do jornalista esportivo. Hoje responsável pelo Núcleo de Esportes da Globo Nordeste, e também apresentador do Globo Esporte Pernambuco, George Guilherme diz que “falar de esporte é para rir, chorar e se informar”. Para ele, “os esportes representam muito mais do que apenas espetáculo televisivo e torcidas organizadas. É a metáfora da vida. Serve como um elemento de transformação social, além de diminuir as desigualdades.”
As agendas
Não importa em qual veículo de comunicação se busque informação sobre esporte. Normalmente, quase todos estão muito presos às agendas dos times, assim como notícias sobre os jogadores, os campeonatos e afins. Isso faz com que temas que dialoguem com políticas públicas para o esporte, questões de gênero e sobre economia não estejam nas pautas diárias das redações, principalmente a televisiva. Segundo George Guilherme, o principal motivo é a audiência, que tem um papel importante nas empresas comerciais, como é o caso da Globo, SBT, Record TV e Band. “Realmente, falamos bastante sobre agenda. Pode-se dizer que 90% do que se faz de jornalismo esportivo na televisão é isso no dia a dia por uma questão de audiência. Porém, não deixamos de falar de outros assuntos, principalmente hoje em dia. Mostramos, principalmente, os pontos fora da curva, os novos potenciais”, ressalta Rembrandt.
Hoje editora do programa PE no Ar, da TV Clube, Lorena Gomes esteve ligada ao esporte durante muito tempo da sua vida profissional. Apresentou o programa Replay, na TV Jornal, durante três anos. O contato dela com o esporte se deu desde nova, pois sempre praticou esportes e tem um pai atleta. Logo, o desejo de cobrir o mundo esportivo aflorou na jornalista. Questionada sobre as pautas dos programas esportivos, ela também afirma que estão muito detidos às agendas dos clubes. “É fato e impossível dizer que não ocorre. Tirando isso, você também pode ver que muito do que se fala nos programas é sobre o futebol, que é, infelizmente, o carro-chefe na escolha das pautas”, comenta a ex-apresentadora.
Em contrapartida, alguns programas esportivos procuram falar de outros assuntos que não estejam ligados diretamente à agenda dos times de futebol. Na página da web do Globo Esporte Pernambuco, por exemplo, existem matérias que fogem do que é comum encontrar na TV. O jornalista e editor do ge.com Elias Roma Neto explica que a versão online tenta ser diferente do modelo televisivo, mas que serve de suporte para ele. “Normalmente, quando os clubes não estão em atividades, abre-se uma porta muito maior para criarmos matérias especiais para o portal, mas também para a TV. Infelizmente, não é tão comum em período de atividade dos times, mas não é que não exista. Só não se tem tanto”, conta.

Recentemente, a equipe da versão online do Globo Esporte Pernambuco produziu uma reportagem especial sobre um time de futebol composto por 18 homens trans, que buscam inclusão nesse segmento ainda tão machista.
É possível conferir a matéria no link abaixo:
Jornalismo e Espetáculo
Uma das grandes mudanças nas últimas décadas no jornalismo esportivo foi a de perfil e de coordenação da(s) equipe(s) que o faz. Na Globo, por exemplo, tinha-se, apenas, Central de Jornalismo – que envolvia Jornal Nacional, Fantástico, Jornal Hoje, Globo Esporte – e de Entretenimento – Mais Você, TV Xuxa, Encontro com Fátima Bernardes, entre outros. Hoje, os programas esportivos não estão mais vinculados à área do Jornalismo, possuindo, agora, sua própria central.
Para o jornalista George Guilherme, isso não é um problema, pois não tira a credibilidade jornalística do produto. “Tem a essência do jornalismo, mas com um pouco de diversão e isso não deixa de lado o caráter principal, que é o da informação”.
Hoje editora de texto do programa Replay, da TV Jornal, a jornalista Bruna Rodovalho afirma que é possível equilibrar o entretenimento nas pautas e na condução do programa. “O jornalismo de entretenimento é um meio termo. No esportivo, conseguimos trazer as duas coisas e deixá-las bem acentuadas. Não vamos ficar na superficialidade, mas vamos informar de uma forma mais convidativa”, explica.
As novas mídias: um desafio para a televisão?
Embora a audiência dos programas televisivos tenha caído de alguns anos para cá, muitos ainda têm um público fiel que sempre os acompanham. Os programas esportivos, depois que trouxeram um pouco do entretenimento para si, conseguiram resgatar uma parcela de espectadores, sobretudo entre os jovens, que estão muito ligados às redes sociais. “Nós colocamos alguns elementos que se encontram nas redes sociais para gente justamente trazer esse público”, comenta Rembrandt Jr.
Pelos programas de TV muitas vezes não exibirem temas atraentes para o público jovem, principalmente nesta era digital, muitos jornalistas e outros profissionais buscam meios alternativos para se comunicarem e produzirem um conteúdo atrativo. Das diversas plataformas existentes, eles encontraram uma solução no Instagram e no YouTube. Hoje, campeonatos de e-sports, por exemplo, já são comuns no Brasil, porém muitos programas televisivos não fazem matérias sobre o assuntos. O jornalista Júlio Neto é editor do Jogo Aberto PE, da TV Tribuna, ao lado de Aderval Barros e mantém um canal no YouTube sobre jogos e de entrevistas, o Joga Dois. “Aqui nós recebemos artistas, jogadores de futebol, e personalidades de diversas áreas para bater um papo animado enquanto jogamos clássicos do videogame”, explica Júlio.

Questionado sobre a migração de jornalistas para essas plataformas e sobre os elevados índices de audiência, ele comenta: “As pessoas querem novos assuntos, querem ser representadas. Quando tem um jornalista no comando de um YouTube, tem também uma curabilidade maior. Tirando que na TV você tem a linha editorial do grupo que a comanda. A gente não tem isso. Falamos sem essa censura.”
Quando se pensa nos grandes nomes do jornalismo esportivo em Pernambuco, logo surge a imagem de Cláudia Prosini. Jornalista há mais de 20 anos, ela foi a primeira repórter esportiva em PE. “O fato de eu ser mulher, como eu era uma primeira que estava desbravando, isso me abriu muito as portas”.
Assista à reportagem sobre a trajetória profissional de Cláudia Prosini:
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