O tal do futebol moderno
- impactoesportivo
- 3 de dez. de 2018
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Por: Lidiane Souza
Acredito que no primeiro trimestre deste ano, eu só tenha assistido a, no máximo, dez programas de resenha esportiva na televisão. Claro que a ausência de tempo disponível para tal exercício passivo colaborou para que a frequência tenha diminuído. Também me incomoda a falta de representatividade nas bancadas – sempre composta por homens. No entanto, a questão fundamental para o meu afastamento tem sido o fato de não aguentar mais observar as discussões futebolísticas serem pautadas pelo que convencionou-se chamar de “futebol moderno”. Usam essa expressão tanto para os assuntos de dentro de campo, quanto para os de fora.
É fato que, de tempos em tempos, surgem elementos no ambiente futebolístico que dominam o imaginário coletivo, seja no âmbito informal dos boleiros e boleiras, seja no âmbito formal das redações esportivas. Nos anos 1980, por exemplo, o debate acerca do futebol no Brasil passava necessariamente pelas temáticas de ordem política. Era o período da redemocratização. Os cabeludos jogadores corintianos, liderados por Sócrates e Casagrande, politizavam o ambiente da bola, fazendo sucesso entre seus pares e na sociedade. No início desta década, as pautas da moda tornaram-se mais amenas e foi recorrente os assuntos girarem em torno dos penteados de Neymar ou da rivalidade entre os dois melhores jogadores do mundo: Messi e Cristiano Ronaldo. Nessa ordem e longa distância.
Acontece que agora, grande parte do que se discute no meio do futebol, vem precedido da justificativa de ser moderno, algo que seria ligado à evolução do mesmo. É “futebol moderno” para cá, “futebol moderno” para lá. Aqueles que, uma vez livres de qualquer paixão, saberiam como conduzir, de modo benéfico, um clube de futebol. Colocam-se numa posição de neutralidade completa, que, bem sabemos, é impossível de acontecer. Parece-me mais um discurso que beira a cafonice. Não há nada de “futebol moderno” aí.
Não faz nem dois dias que assisti ao cúmulo desse novo ambiente. Um determinado jogador já vestia o uniforme do clube, treinava com os companheiros de agremiação, postava fotos nas redes sociais com a mascote do time, e o dirigente do mesmo insistia em não confirmar a sua contratação. Dizia que era um procedimento padrão do tal “futebol moderno” e que sua posição era para o bem do clube. Confesso que não entendi como isso poderia ser uma tática positiva para aquele clube e senti uma ligeira preguiça com a falta de ânimo do tal dirigente. O quanto de emoção e ligação com os torcedores está se perdendo com esse novo modelo de negócio não está no placar.
Veja bem, não estou aqui querendo dizer que as gestões responsivas e o planejamento eficiente dos times são coisas ruins. Nem sou saudosista a ponto de ficar exaltando a falta de profissionalização daqueles que comandaram os clubes de futebol no Brasil por décadas. Entretanto, não dá para robotizar e encaixotar uma das maiores expressões culturais do nosso país, que é futebol, numa objetividade sem bom senso. Nesse modelo de negócio que é europeu, frio, metódico e financeirizado. O drible, por exemplo, um dos principais elementos do futebol, é fruto justamente da capacidade de improvisação e da maleabilidade que o próprio brasileiro deu ao esporte. Nossa cultura incide, claramente, sobre as práticas referentes ao mesmo. Ou seja, “futebol moderno” só pode ser aquele que, responsavelmente, acolha também as sensibilidades culturais de um povo e não só reproduza padrões com pouco efeito. Sim, queiram ou não, o futebol inexiste sem a tal da emoção.
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