Continuando a tradição oriental: Kung Fu
- impactoesportivo
- 1 de dez. de 2018
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Praticantes do kung fu no Recife falam sobre a força de vontade que o esporte exige.
Por: Lidiane Souza e Júlio Cesar
Edição: João Gabriel
O kung fu possui lendas que tornam qualquer tentativa de transmitir uma história compreensiva e factual quase impossível. O motivo é que a história de uma pessoa é a lenda de outra. Há poucas provas para sustentar qualquer versão sobre a origem da luta, já que a maioria delas passa de pai para filho oralmente, sem qualquer documentação escrita. A hierarquia e a disciplina refletem a sociedade chinesa, diferente do modo individualista ocidental.
Na versão dos mestres recifenses Marcelo Andrade e Jackson Rafael, a prática do kung fu surgiu na China, através das observações dos movimentos dos animais. Cogita-se que seu primeiro estilo venha dos camponeses chineses que defendiam suas propriedades utilizando golpes de derrubadas como o Shuai-Jiao desenvolvida pelo imperador Jakus-Shu há mais de cinco mil anos.
Coloquialmente, o termo significa “tempo e habilidade” e/ou “trabalho duro”, adquiridos através de esforço e competência na luta corporal. “Todo o preparo é físico e ainda mais mental. Para ser um bom aluno, primeiro é preciso dar o melhor de si”, explica Marcelo Andrade, mestre da Academia Coliseu, em Paulista, região metropolitana do Recife.

O kung fu não era popular até a segunda metade do século 20 e, por isso, raramente é encontrado em textos antigos. No Ocidente, a palavra foi usada pela primeira vez no século 18 pelo missionário jesuíta francês Jean Joseph Marie Amiot. Com a chegada dos chineses na América, a palavra começou a se difundir. Os orientais de Guang Dong (Cantão) costumavam se referir a treinos de lutas mentais, atividades que requeriam um trabalho duro sob supervisão de um mestre.
O esporte ganhou popularidade a partir do final dos anos 60 graças aos filmes de artes marciais, especialmente os estrelados pelos atores Bruce Lee e Jackie Chan, e aos seriados de televisão.
Treinamento
O kung fu pode ser praticado por todos. O esporte combina acrobacias e movimentos chamados de “taolu” e o “katis”, cujo termo, deste último, no Brasil, é devido à influência do termo “kata”, usado no Karatê. Alguns estilos incluem treinamentos com armas chinesas, como bastão (gun), facão (dao), espadas (jian), lança (qiang). Se bem desenvolvido, possibilita equilíbrio corporal, paz interior e aumenta a saúde e a qualidade de vida. A luta também ajuda no controle do estresse e na concentração.
Saulo Silva treina kung fu na Academia Coliseu há cinco anos. Segundo ele, o esporte o ajudou a descobrir que não estava bem psicologicamente. “Após um tempo, percebi que estava melhor. Me livrei da ansiedade e não sinto mais sintomas da depressão que tinha”, conta.

Mais de 300 estilos diferentes de kung fu estão catalogados na China, podendo ser classificados em duas escolas: Waijia, ou escola externa, e Neijia, ou escola interna. Na primeira, inclui-se a maior parte dos estilos da luta, originários do Templo Shaolin e de outros, como o Emeishan, Fukien e Huanshan. A escola visa a prática para o desenvolvimento externo, ou seja, físico ou marcial. São estilos de kung fu classificados como “duros”. A maioria desses estilos se encaixa no estilo principal – o tongbeiquan – baseado no movimento de animais como tigre, louva-deus, macaco, serpente e garça. Outro exemplo é o Sanshou ou Sanda ou boxe chinês, direcionado para combates.
No Brasil, houve uma reformulação no esporte. O kung fu moderno, que frequentemente exige atletas mais preparados, é mais praticado que o tradicional. Neste último, o foco é oferecer uma prática esportiva e marcial para todas as idades.


Wesley Braga é professor da Academia Coliseu. Ele pratica Kung Fu há 28 anos e dá aulas para jovens e adultos. “É uma verdadeira arte. Ensino tudo que aprendi com Mestre Marcelo e posso dizer o quanto mudou minha vida e das pessoas que se entregam ao esporte”, garante.
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