A linguagem esportiva em áudio: do rádio ao podcast
- impactoesportivo
- 22 de nov. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de nov. de 2018
A linguagem sonora em constante renovação.
Por: Júlia Farias e Nuno Talicosk
Edição: Giovanna Camargo e Thiago Barreto
Quando atleta em campo com a bola no pé basta olhar ao redor para encontrar alguém na arquibancada ou em casa com o rádio no ouvido. A linguagem do áudio é uma tradição na cobertura esportiva do futebol no Brasil e, no século 21, enfrenta a concorrência de um novo formato surgido nas mídias digitais: o podcast. O Impacto Esportivo fez um resgate histórico das duas linguagens. Observe abaixo:
Como mostra o infográfico, o rádio e o podcast não são a mesma coisa, ambos são acessados por ouvintes, mas a maneira de ouvir e de como são disponibilizados são diferentes. Para ouvir o rádio, é preciso sintonizá-lo em um aparelho radiofônico ou na internet, como é o caso das web rádios. Já para escutar a um podcast, é possível tanto fazer o streaming, quanto baixar o arquivo correspondente ao programa e escutá-lo em um player ou diretamente no smartphone.
As principais diferenças entre o rádio e o podcast são a possibilidades de transmissão. O rádio é instantâneo e possibilita a transmissão em tempo real, já o podcast exige uma preparação antes de disponibilizá-lo, sendo anteriormente gravado e editado.
Um dos comunicadores mais antigos em Pernambuco é Aderval Barros. Ele tem quase 40 anos de estrada e durante esse tempo, muitas rádios passaram pela sua vida. “O rádio é um veículo extremamente importante e no futebol, ele tem sido cada vez mais agregador”, pontuou. “A interatividade é fundamental no rádio. O ouvinte participa dos programas através de mensagens de áudio e digitadas e, em cima das colocações que ele faz, a gente opina”, complementou.
Segundo Aderval, informação e entretenimento estão presentes na cobertura do rádio, cada uma em seu momento. “Isso é muito da produção, do pensar. Para mim, tem que ter as duas, não tem que ser só opinião, tem que mesclar. As produções precisam ter uma outra dinâmica e como a faz? Com o surgimento de profissionais que se reinventem de acordo com o que o editorial da emissora permite”, disse.
Para o jornalista Aroldo Costa, com 25 anos de rádio, o grande diferencial do rário é o factual. “É a notícia naquela hora. É o debate esportivo do momento. Quem vai jogar? De que jeito? É a análise daquele tempo, do que vai acontecer em poucos minutos ou horas”, contou.
De uns tempos para cá, os assuntos sobre futebol têm partido para o entretenimento mas, no rádio, o futebol continua sendo e passando pelas etapas de produção jornalística. “O esporte, como um todo, tem apuração, produção de notícias e trabalho feito por jornalistas e radialistas. Hoje, há uma ‘ideia’ de que o futebol pode se aproximar mais do entretenimento. Um exemplo é falando mais do jogador que pintou o cabelo do que do jogo. Mas o rádio ainda lida com a notícia e com os relatos da partida. Claro que em algum momento a gente brinca, mas não é que seja o foco”, assegurou Aroldo.
Com a chegada da internet, o rádio teve que se reinventar, foi quando surgiu a web rádio. Ela é uma rádio digital que realiza transmissões via internet utilizando a tecnologia de serviço de transmissão de áudio/som (streaming) em tempo real, sendo possível emitir uma programação ao vivo ou gravada. Muitas estações tradicionais transmitem no FM e no AM, mas também estão presentes na internet. “Tudo o que for para somar, multiplicar, é arretado. A comunicação tornou-se ainda mais acessível com o surgimento dessas novas plataformas. Isso é maravilhoso para o mercado. O jornalismo saiu ganhando. Os assuntos esportivos se intensificaram ainda mais porque as web rádio podem ser acessadas a qualquer momento, por todos”, falou Aderval.
Já Aroldo tem um ponto de vista diferente sobre as web rádios. “Há uma discussão muito grande no meio jornalístico do que o cara que faz uma web rádio e vai frequentar o estádio com os mesmos direitos de uma emissora comercial, no mesmo espaço. Os próprios clubes e a Associação dos Cronistas discutem sobre isso e acaba gerando uma confusão”, disse. “Essa conversa ainda está em processo e precisa ser feita da melhor forma”, declarou.
O podcast também é uma modalidade de transmissão de informações via internet, mas, desta vez, os conteúdos são produzidos por demanda e podem ser acessados quando o ouvinte quiser. As durações dos programas variam bastante, porque não tem um tempo estipulado, indo de uma hora e se estendendo por mais de três horas.
Para o jornalista Fred Figueiroa, um dos fundadores do Podcast 45 Minutos (podcast sobre o futebol nordestino feito no Recife, sendo o primeiro mais acessado em todo o país, no Spotify, quando se trata de esportes - mais precisamente o futebol), a forma de construção de público do podcast é muito diferente do rádio. “Não é para ser ouvido de uma vez só, é para quando está no carro, no meio do engarrafamento. Ouviu 10 minutinhos, parou, volta, escuta de novo. É a liberdade que o rádio não dá”, relatou. “As pautas esportivas que entram são mais profundas do que as debatidas no rádio e com bem mais durabilidade”, complementou.
Diferentemente do rádio, o ouvinte de podcast tem um alto grau de acesso à informação. “Ele já passou do site, da TV por assinatura. O podcast é um produto de opinião, então a nossa missão é opinar ou conversar, que é a parte do entretenimento. O público entende muito bem disso”, disse Figueiroa. “No podcast, as pessoas sabem do nosso time, é tudo muito claro. Elas escutam para se divertir e se aproximar ainda mais. O cara sabe metade da minha vida. Ele sabe da música que eu gosto, do filme que eu gosto. O podcast é outro universo”, completou.
Segundo o jornalista Cássio Zirpoli, também do Podcast 45 Minutos, o futebol é um espaço contínuo. “Tendo esse espaço do podcast, a maioria dos ouvintes acredita na liberdade de trocar ideias conosco nas plataformas digitais, como o Twitter, e a gente debatendo nas gravações”, disse. “As entrevistas no podcast são informais, algo diferente para o esporte. É deixar o entrevistado à vontade, mas com a certeza de que ele será questionado, trocando ideias de uma forma confortável”, concluiu.
“O rádio tem o companheirismo, ele é o amigo dos ouvintes. O podcast é extraordinário, porque está lá disponível para ser escutado na hora em que a pessoa quiser. Ambos são maravilhosos, cada um com o seu papel, nenhum tira o espaço do outro”
Aderval Barros
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