Tecido acrobático: prática além da força
- impactoesportivo
- 20 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de out. de 2018
Atividade pode elevar a autoestima e promover a expressão artística e a sensualidade
Por: Paula Aguiar e Thaís Schio
Edição: João Gabriel
Consciência corporal, equilíbrio e condicionamento físico são apenas alguns dos benefícios que o tecido acrobático pode trazer. Cada vez mais popular entre crianças e adultos, a modalidade da área circense é praticada em malhas suspensas e flexíveis, que se moldam ao corpo dos praticantes para formar acrobacias aéreas.
Para quem tem medo de altura, os exercícios aéreos podem não parecer uma boa opção, já que os tecidos costumam ser fixados acima dos quatro metros de altura. Mas os adeptos dessa atividade garantem que a coragem para executar os movimentos é desenvolvida gradualmente e que, além de diminuir o medo de altura, eles também adquirem confiança nas suas capacidades.
“É impressionante como a coragem que precisamos ter para fazer alguns movimentos refletiu na minha vida. Muitas vezes, me deparo com situações em que fico com medo de me arriscar e, automaticamente, essa coragem que o tecido nos incita a ter, surge. Então eu simplesmente respiro fundo e vou”. É dessa forma que a estudante de pedagogia e professora de tecido acrobático Thaís Botelho (22) fala sobre a sua experiência com a atividade.
Thaís começou as práticas como aluna. Ela conta que, no início, não era tão apaixonada pela modalidade como hoje mas que, com o tempo, o interesse aumentou até se tornar professora. “Gostava muito das aulas e esse fascínio cresceu até que tive a oportunidade de estagiar ensinando para uma turma de crianças e adolescentes. Logo depois, assumi a turma já como professora. Somando tudo, hoje já são dois anos nessa área”.
O seu primeiro contato com o tecido acrobático foi assistindo a espetáculos e a decisão de procurar pelas aulas se deu por conta da sua admiração pelo universo artístico e a possibilidade de unir exercício físico com arte. “Tenho o pé e o coração na arte, no teatro, na dança e o tecido acrobático é acrobacia, é a dança área. Além disso, trabalhamos o lado psicológico, a questão da energia e consciência corporal, o que acaba puxando para expressão. O corpo fala por si só no tecido. Não existe o verbo oralizado e isso me encanta”, relata.
A prática pode ter inúmeros objetivos para quem a escolhe. Algumas pessoas o fazem como um hobby, para fugir das atividades físicas habituais, outros por questões de saúde, para ganhar força, resistência e flexibilidade. Ainda há aqueles que pretendem seguir carreira. Mas, para a maioria, o exercício aéreo é uma terapia.
Em um ano de prática, a estudante de psicologia Tatiana Marques (21) já consegue enxergar os ganhos após as aulas. A atenção no presente e a consciência do corpo foram pontos importantes nessa trajetória. “Hoje, consigo alinhar corpo e mente. Consigo estar aqui e sentir o momento. Isso desde a primeira hora, quando começo a me aquecer. É preciso estar presente para subir no tecido”, contou.
Para ela, essa consciência corporal é a noção exata do espaço que o corpo ocupa, desde o andar até a energia contida, ajudando aos que praticam a se concentrar no presente e se reconhecer como indivíduos. “Não sei quanto a outras pessoas, mas quando olho pra mim, antes do tecido, me via um pouco sem saber quem era Tatiana. Eu me reconheço muito melhor depois do tecido. Hoje sou uma pessoa que consegue sentir a presença do momento. Consigo estar bem com o meu corpo”, destaca a estudante.
Além de trabalhar o corpo e o psicológico, a professora Thaís Botelho ressalta outra característica exercitada com as práticas: o contato com o universo feminino, longe dos estereótipos de gênero. "No mundo machista em que vivemos, acabamos vendo as outras mulheres como inimigas, mas aqui a gente desestimula isso, porque quebramos essas barreiras que vêm de fora, não há competição. No tecido, as alunas se unem, aprendem, ensinam umas às outras e acabam também se admirando, vendo a outra como uma inspiração", conta.
A professora ainda falou sobre a mudança de comportamento entre as praticantes, mais especificamente do empoderamento das suas alunas. “Percebo uma grande mudança em relação à autoestima e à aceitação do próprio corpo. Eles começam a se enxergar de uma outra forma e isso é muito positivo”.
Tatiana confirma a percepção da professora. Para ela, outra parte que estava adormecida, e que foi possível desenvolver, foi a sua sensualidade. Ela acredita que é impossível não ter contato com esse aspecto durante as práticas. “Subir no tecido e não se deparar com o nosso lado sensual é impossível. O tecido está ali como um instrumento para você usar seu corpo de várias maneiras. E têm movimentos que exigem um contorcionismo e você acaba sentindo esse lado sensual, feminino”, comentou.
A estudante de nutrição Karen Soares (18) decidiu começar as aulas de tecido acrobático após um convite de uma amiga da faculdade, que já praticava. Ela foi para uma aula experimental e se encantou. “Achei aquilo lindo. Era uma coisa diferente, quase ninguém fazia aquilo. Depois dessa aula quase desisti por conta das dores no corpo mas, com a insistência da minha amiga, continuei e agora faz um ano e cinco meses de prática”, contou Karen.
A estudante também pôde observar outras vantagens, além dos benefícios físicos. Ela relata que “a Karen de um ano atrás era extremamente tímida, sedentária. Com o tecido, me soltei, fiz amizades incríveis e me apaixonei por isso. Costumo dizer que isso aqui é minha terapia. É como se eu me renovasse a cada aula. É muito gratificante”.
Assim como suas colegas e professora, Karen também ressalta o potencial que as práticas carregam para encorajar as mulheres a renovarem suas crenças em sua própria capacidade. “Posso dizer que o tecido nos empodera. Hoje eu me sinto mais capaz. O tecido fez com que eu me enxergasse de um jeito que eu não me enxergava. Inclusive, a me olhar de forma mais sensual, que era algo que eu não explorava em mim. E hoje, depois de me ver subindo, praticando, eu me sinto uma mulher muito bonita, muito capaz”, finalizou.
Para quem deseja praticar esse tipo de exercício não há restrições quanto a gênero. As aulas são voltadas para ambos os públicos.
Foto/Reprodução: Paula Aguiar e Thaís Schio
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